Certificada pelo Programa 3S da Cargill, a produção de soja da Fazenda Roncador tem sido fundamental na trajetória de sustentabilidade
São 152 mil hectares, mas a grandeza da Fazenda Roncador, uma das maiores do Brasil, vai muito além da sua extensão. Situada no Vale do Araguaia, no município de Querência, no norte do Mato Grosso, a propriedade tornou-se referência em sustentabilidade no agronegócio. Atendida desde 2016 pelo Instituto BioSistêmico (IBS) no Programa 3S (Soluções para Suprimentos Sustentáveis) da Cargill, a Roncador está entre as fazendas premiadas pelo 3S, neste ano, pela comercialização de soja certificada.
Desenvolvido pela Cargill com execução do IBS, o 3S é um programa de melhoramento contínuo de sustentabilidade das fazendas produtoras de soja, que permite o produtor melhorar seus indicadores sociais, ambientais e produtivos. E a certificação da soja é concedida pela Cargill às propriedades que cumprem os requisitos do programa: desmatamento zero após 2008, bem-estar do trabalhador rural, gestão de gases de efeito estufa (GEE) e melhoramento contínuo dos seus indicadores.
Nessas áreas, a Roncador tem excelentes resultados alcançados a partir da trajetória de sustentabilidade iniciada, há cerca de dez anos, por Pelerson Penido Dalla Vecchia, diretor presidente do Grupo Roncador.
Ele afirma que a premiação pela soja certificada é a confirmação de que é possível fazer direito, colhendo bons resultados produtivos por meio de processos adotados e avaliados por órgão competente. “Isto mostra que é possível produzir em larga escala, fazer o que tem que ser feito, de forma correta, com alto nível técnico e de forma sustentável”, destaca Penido.
Para Eric Geglio, do time de Sustentabilidade da Cargill, exemplos de propriedades como a Roncador são fundamentais para que a sustentabilidade esteja cada vez mais presente nas cadeias produtivas. “Se hoje é possível oferecer soja certificada ao mercado é porque contamos com a parceria de produtores comprometidos com a sustentabilidade da sua produção”, ressalta Geglio.
Essa parceria entre a Roncador e o Programa 3S é de fundamental importância na concepção do diretor do Grupo Roncador. Ele afirma que as equipes da fazenda e do 3S trabalham alinhadas e a propriedade é muito bem atendida.
“Poder contar com o apoio de uma organização qualificada e que conta com bons profissionais solidifica ainda mais nosso modelo de produção e de gestão”, garante.
Pelerson é neto do fundador do grupo, Pelerson Soares Penido que, em 1978, comprou as primeiras terras da família no Mato Grosso. A fazenda começou com gado e foram cerca de três décadas de um sistema produtivo baseado na pecuária extensiva, até o solo dar sinais de esgotamento, tornando o modelo insustentável.
Nova fase
“À medida que você se envolve com a terra, vai percebendo o que ela fala. O solo estava seco e trincado”, lembra Pelerson Penido. Neste caso, perceber o que a terra “fala” envolve parâmetros técnicos para medir resultados. “Hoje, nossas ações são baseadas em pesquisas. Nós medimos muito e aplicamos o que dá certo”, pontua. Segundo ele, para dar certo não pode faltar a viabilidade econômica, base para a sustentabilidade de qualquer negócio.
Numa perspectiva atenta aos sinais da terra e sem perder de vista os resultados econômicos, inicia-se uma nova fase na condução da Fazenda Roncador, por volta de 2008. Nesse novo momento, em que a medição dos resultados é o pressuposto para qualquer ação, a tecnologia de ponta se tornou uma grande aliada. Passaram a fazer parte da rotina da propriedade o monitoramento remoto dos tratores e colheitadeiras conectadas, além do uso de imagens de satélite e ferramentas de gestão.
Um dos caminhos encontrados para recuperar o solo foi a implantação do sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), após verificarem que a rotatividade soja-boi funciona e traz bons resultados. A primeira safra de soja da Roncador foi a 2007/2008, já no sistema ILP.
Dos 76 mil hectares produtivos, 26 mil são de pecuária e 30 mil do sistema ILP. Os outros 20 mil hectares são dedicados a uma joint venture com o grupo SLC para a produção de soja e milho, chamada Fazenda Pioneira. Nessa área, começa-se a praticar também a integração com a pecuária (5 mil hectares).
Demonstrando o aprendizado a partir do que a terra “fala”, Pelerson conta com entusiasmo que na área de ILP, é possível verificar a palhada de até 3 anos atrás. “Essa é a palhada que protege e que dá uma condição de solo espetacular para a soja. Temos a soja e o gado produzindo mais, e a terra ficando cada vez melhor”.
Resultados
Com a implantação do ILP, a Roncador aumentou 41 vezes o volume de alimentos produzidos na mesma área. Entre 2009 e 2019, a produção de soja passou de 41 toneladas para 166.256 toneladas e a produção de carne aumentou de 4.150 toneladas para 5.200 toneladas.
A propriedade capturou mais de 89 mil toneladas de carbono equivalente na safra 2017/2018, de acordo com estudo da Pangea. Isso significa que, hoje, a Fazenda Roncador compensa todas as suas emissões de gases do efeito estufa e ainda captura carbono equivalente a 50 mil carros rodando mil quilômetros por um mês durante um ano todo.
“Correlacionando o que produzimos de alimentos com o que foi capturado de carbono equivalente na safra 2017/2018, significa que nós capturamos 1,06 kg de CO2-equivalente para cada 1Kg de alimento produzido”, relata Pelerson.
Sustentabilidade
Desde 2008, a Roncador não abre novas áreas e mantém 50% de mata nativa ou de proteção permanente. Mantém um viveiro com aproximadamente 40 mil mudas de espécies nativas, o que faz parte de um esforço para ampliar sua cobertura vegetal nativa.
Foi a primeira fazenda do Brasil a obter o certificado de proteção de onças pintadas, fornecido pelo Instituto Onça Pintada. Em 2018, 962 cabeças de gado foram abatidas pelos felinos na propriedade, o que não é visto como um problema, mas como um ativo por indicar a qualidade da biodiversidade das matas da propriedade.
Na agricultura, a Roncador busca reduzir o uso de defensivos agrícolas, com desenvolvimento de pesquisas para a adoção de controle biológico de pragas. “Fazemos a análise de resíduos na soja em cada um dos sistemas produtivos. Nossa busca é a soja zero resíduo”, adianta Penido.
Em toda a trajetória da Fazenda Roncador, Pelerson faz questão de ressaltar o papel fundamental do time de profissionais da propriedade. Em 2009, contava com cerca de 70 colaboradores e atualmente são mais de 400.
Com um programa de remuneração variável, a fazenda incentiva os funcionários a buscar desenvolvimento profissional dentro dos seus quadros, podendo mudar de área para galgar novos degraus. Os profissionais contam com uma infraestrutura de 110 apartamentos, 101 casas, um posto de saúde, uma escola, além de outros equipamentos que garantem boas condições de trabalho, assim como a qualidade de vida de quem mora no local.
Sistema 4 Ps
O cuidado com as pessoas é um dos pilares do que Pelerson chama de sistema 4 Ps da Fazenda Roncador: Plantio, Pecuária, Pessoas e Planeta. A partir do plantar e colher integrado com a pecuária, foi possível mudar o rumo da Fazenda Roncador para o caminho da sustentabilidade. Nenhuma mudança teria sido possível, sem a contribuição das pessoas ali envolvidas. E tudo passa pelo dever que é da humanidade: cuidar do planeta. Mais que cuidar do planeta, o exemplo da Fazenda Roncador demonstra a importância de aprender com o planeta.
“A sustentabilidade é a consequência de uma ação persistente no caminho da melhoria”, afirma Penido. Para ele, é essencial olhar para a natureza como professora e ter a consciência de que a melhoria é contínua. “Nunca acaba. Sempre dá para melhorar mais. Estamos vivos para aprender”, pontua.
O olhar para a natureza e o saber ouvir o que a terra “fala” faz parte de um ensinamento que o diretor presidente do Grupo Roncador parece ter aprendido e que faz questão de compartilhar, seja com outros produtores ou com seus filhos pequenos. Estes costumam acompanhá-lo em algumas visitas à propriedade e, neste ano, puderam presenciar os diferentes ciclos de uma lavoura, do plantio à colheita de soja e milho.
Numa dessas visitas, a maior satisfação do pai foi ter a possibilidade de mostrar aos filhos que há vida nas plantações da fazenda. “Nós paramos no meio da plantação de soja, silenciamos, e conseguimos escutar o zumbido das abelhas. Nós nos abaixamos na lavoura de milho e eles puderam observar os bichinhos caminhando no solo. Tem vida ali dentro!”.
Vida é o que não falta no solo da Roncador. “O que antes era terra trincada e seca, hoje está cheio de minhocas”, comemora Pelerson Penido Dalla Vecchia. São detalhes que parecem pequenos, mas são bons indicadores de sustentabilidade da área de 152 mil hectares. E para além dessa extensão, talvez a grandeza da Fazenda Roncador também se revela nessas miudezas, assim como no aprender constante de todas as pessoas que fazem essa gigante rodar. Porque, sim, é sempre possível melhorar.
Matéria publicada no site do Programa 3S da Cargil (24/08/20)