Jefferson Carvalho Barros – Doutorando em Educação, professor e coordenador do curso de Agronegócio e da pós-graduação em Logística e Supply Chain-Unibalsas – coord.agronegocio@unibalsas.edu.br
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho – Mestre em Agronomia e tutor presencial – Unopar – Balsas – a15santanafilho@gmail.com
Adriana Araujo Diniz – Professora adjunto II – UEMA/CESBA – adrisolos2016@gmail.com
O agronegócio por anos foi visto por muitos como o vilão do desenvolvimento sustentável, no entanto, ao longo dos anos o produtor rural tem se dedicado cada vez mais a preocupar-se com as questões ambientais. O esforço conjunto dos produtores em preservar a diversidade tem levado ao surgimento de fazendas verdes.
As fazendas verdes são propriedades rurais que dedicam seus esforços para, em conjunto com a produção, realizar também a sustentabilidade e menor degradação dos recursos ambientais. Ao longo do avanço do agronegócio, o produtor rural pode perceber que a degradação ambiental afeta principalmente a ele mesmo, gerando grandes prejuízos a sua propriedade, e através dessa observação o agronegócio atualmente passou a ser grande aliado da preservação ambiental.
Oportunidades
Ainda há muito a ser avançado na questão sustentabilidade, mas aos poucos se percebe que o setor agropecuário tem se desenvolvido dentro dessa vertente, onde enormes vantagens se abrem. Assad; Martins; Pinto (2012) apontam produtos mais “limpos”, redução de custos em função de boas práticas agrícolas, aumento no sequestro de carbono e liderança mundial na produção agrícola com baixa emissão de carbono como alguns dos enfoques que a agricultura brasileira pode obter sucesso frente à conservação e sustentabilidade.
Problemas x solução
Outra preocupação do agronegócio brasileiro está na competitividade internacional. Para que a mesma seja garantida, é necessário que práticas de sustentabilidade sejam adotadas, frente ao grande rigor internacional por uma produção mais sustentável. Desse modo, as propriedades rurais brasileiras também têm se preocupado com a conservação afim de atender de forma satisfatória esse mercado.
Nesse sentido, o entendimento da definição de sustentabilidade envolve os principais atributos do desenvolvimento sustentável, que segundo Feil; Schreiber (2017) são: solução à escassez de recursos naturais vinculados a questões energéticas e recursos naturais; originou-se da deterioração entre ecologia global e o desenvolvimento econômico; abrange a sustentabilidade e desenvolvimento sustentável; preocupação com o futuro dos recursos naturais e da vida humana.
O desenvolvimento sustentável, então, pode ser conceituado como uma estratégia utilizada em longo prazo para melhorar a qualidade de vida (bem-estar) da sociedade (Feil; Schreiber 2017).
Exemplos reais
Desse modo, as fazendas verdes são consideradas exemplos de sustentabilidade, pois adotam práticas que reduzem a degradação do meio ambiente, pois objetivam a produção agrícola, porém, visando também a sustentabilidade dos recursos naturais disponíveis.
É fundamental deixar de lado a agricultura convencional e trilhar em direção a uma agricultura mais sustentável e menos ameaçadora à natureza. A agricultura ecológica mostra-se como um ideal em construção que pode trazer grandes benefícios para quem produz, para quem consome e para o conjunto do meio ambiente (Ruscheinsky, 2002).
Conscientização ambiental
Assim sendo, a educação ambiental surge no Brasil com o objetivo de disseminar conhecimentos, tanto práticos como teóricos sobre o ambiente, trazendo como função a conscientização, a utilização e a preservação do nosso meio ambiente, tornando-o cada vez mais sustentável.
A busca por soluções frente à problemática ambiental se faz necessária e urgente. É imprescindível a construção de um processo contínuo de mudanças ambientais como forma estratégica de inclusão da maioria de propriedades rurais na construção de uma nova relação com o ambiente, em que o ser humano conviva em harmonia e equilíbrio com a natureza (Medeiros et al., 2014).
A degradação do ambiente tem chegado a patamares elevados. Observa-se que atualmente há uma crise ambiental surgindo, tornando-se necessária a intervenção humana, buscando restaurar a relação com o meio ambiente dentro de todos os setores da economia, portanto, o agronegócio precisa fazer ainda mais e se preocupar com as questões ambientais.
Papel do agro no planeta
Considerando tais fatores, a implantação de fazendas verdes com práticas agrícolas adequadas desempenha um papel muito importante na capacitação da produção agrícola, de acordo com as exigências necessárias para que estas atividades não comprometam o meio ambiente e a saúde dos produtores rurais.
O número de fazendas verdes no Brasil ainda não é preciso, no entanto, observa-se que o aumento de fazendas certificadas com selos verdes e propriedades preocupadas com o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável tem crescido bastante nos últimos anos.
De acordo com Biazin; Godoy (2000) com o crescente movimento ambiental propagando a importância de produtos ecologicamente corretos, a tendência é que o consumidor mude seus padrões de consumo e a variável ambiental seja decisiva no momento da compra.
As propriedades do desenvolvimento sustentável, segundo Feil; Schreiber (2017) são: objetiva o crescimento econômico sem agressão ambiental humana; visão de longo prazo em relação às gerações futuras; abrange o ambiental, o econômico e o social em equilíbrio mútuo; propõe mudança no comportamento da humanidade; materializado por meio de estratégias; envolve processos e práticas.
De acordo com o relatório de inteligência (2016) desenvolvido pelo SEBRAE, as principais vantagens da certificação verde são: a contribuição para um mundo mais sustentável; aumento das parcerias de negócios e de clientes; redução de gastos, visto que a empresa deverá adotar métodos sustentáveis e mais baratos e valor agregado à marca.
Condições para ser uma fazenda verde
Para que uma fazenda se enquadre nos critérios de sustentabilidade, a mesma precisa se adentrar nos diferentes critérios exigidos para qual selo a mesma deseja obter. Atualmente, existem cerca de 400 selos com apelo sustentável no mundo, cada um com critérios específicos a serem seguidos.
Dentre estes, pode-se citar: FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal), selo desenvolvido para atender as fazendas produtoras de espécies florestais e atesta o manejo sustentável dentro dessas propriedades. O Rótulo Ecológico ABNT objetiva a redução dos impactos negativos causados ao meio ambiente.
O Cerflor também é uma certificação voltada para manejo florestal, assim como o FSC. O Rainforest Alliance Certified atende propriedades rurais que se enquadram nos critérios de sustentabilidade ambiental, social e econômico. O Certified Humane Brasil é voltado para propriedades pecuárias, e estabelece diretrizes para o manejo sustentável de animais.
Existem outras diversidades de certificados que atestam a sustentabilidade das propriedades agrícolas, todos com características específicas, mas com o mesmo objetivo, a sustentabilidade da produção.
De modo geral, para que uma propriedade rural seja sustentável a mesma precisa adotar critérios como: proteção de áreas nativas e gestão de recursos naturais, como: proteção das águas, da fauna e gestão de resíduos. Conforme descrito por Sambuichi et al. (2012), não existem soluções únicas que possam ser efetivas para todas as situações.
É preciso adequar as ações à realidade socioeconômica e ambiental específica de cada região. Ainda de acordo com os autores, o desafio de desenvolver a produção agropecuária com sustentabilidade exige a adoção de múltiplas estratégias que passam pela geração e difusão de tecnologias ambientalmente adequadas, estruturação de sistemas de informações agroambientais integrados e aplicação de instrumentos econômicos que possam minimizar as externalidades negativas do setor.
É necessário, ainda, a presença de um profissional capacitado nesse processo de desenvolvimento e construção da adoção de sustentabilidade, auxiliando a comunidade agropecuária na elaboração, execução e preservação dos recursos, ensinando e propagando princípios que levem à busca da maior sustentabilidade.
O caminho do acerto
Os erros mais frequentes na adoção de práticas sustentáveis são: a falta de um profissional qualificado para orientar a adoção de técnicas eficazes; não levar em consideração as particularidades da região e da propriedade rural, o que pode levar à adoção de práticas sustentáveis equivocadas; falta de planejamento adequado para a gestão dos recursos, o que pode levar a gastos em excesso e desnecessários; falta de treinamento e qualificação dos colaboradores para atuar com respeito ao meio ambiente durante o trabalho.
Os erros podem ser evitados adotando um planejamento correto, com a participação de um profissional qualificado, sempre buscando organizar cursos e palestras para os funcionários a fim de qualificá-los quanto à gestão ambiental e respeitar as condições e particularidades de cada área no momento da adoção da melhor prática sustentável.
Custos envolvidos
Os custos para a adoção de sustentabilidade são relativamente baratos, quando se pensa em um resultado a longo prazo, em que os benefícios serão sentidos por muitos anos. No quesito reputação e competividade são notáveis, e a sustentabilidade tem aprimorado a percepção de riscos da fazenda, ou seja, a adoção de práticas sustentáveis reduz os riscos de perdas de produção e aumenta a lucratividade do produtor.
Nesse contexto, a relação custo-benefício é totalmente viável, sendo os benefícios grandiosos e compensando todo o investimento realizado.
Agenda 2030
Brasil x Objetivos da ONU
Todo cidadão consciente e preocupado com o futuro da humanidade tem um compromisso arrojado para os próximos anos. Trata-se da Agenda 2030, acordada em setembro de 2015 pelos líderes de 193 países, com o objetivo de criar um planeta mais próspero, equitativo e saudável.
O aumento da produção de alimentos deverá ser buscado em sintonia com a gestão responsável dos recursos naturais; a expansão da energia renovável de base hídrica se dará respeitando o abastecimento de água das populações; e a proteção dos oceanos não deve sufocar o crescimento econômico e o desenvolvimento nas regiões costeiras.
Essa audaciosa agenda tem alcance e significado sem precedentes. Ela é aceita por todos e é aplicável a todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Um novo padrão de produção deverá emergir, fortemente focado em boas práticas e entrega de valor à sociedade. O Brasil poderá se destacar nessa missão exatamente no setor econômico que melhor representa a sua competência tecnológica e capacidade competitiva em âmbito global: a agricultura.
Diversidade com sustentabilidade
Agricultura e alimentação já estão sendo marcadas de forma profunda pelas mudanças nos padrões de consumo e produção. O futuro exigirá produção de maior diversidade de alimentos, com maior densidade nutricional e atributos funcionais, a partir de tecnologias de baixo impacto, poupadoras de recursos naturais.
O Brasil tem experiência, capacidade e base inigualável de recursos naturais para responder a essas expectativas, tornando nossas safras essenciais para a segurança alimentar e nutricional da nossa população e do mundo.
A infraestrutura de pesquisa e inovação, o ambiente regulatório, os investimentos privados e o incentivo público precisam ser estimulados para que o mundo da agricultura e da alimentação no Brasil alcance papel de grande destaque na implementação da Agenda 2030. O Brasil deve almejar essa posição e não há tempo a perder!
Como mensurar o impacto ambiental de sua fazenda?
Como medir a sustentabilidade de uma fazenda? Em algum momento, produtores interessados em boas práticas agrícolas deparam com essa questão. E nem sempre encontram respostas. Hoje em dia, o mercado exige dados concretos sobre a produção sustentável para a criação e oferta de linhas de crédito e serviços.
Exemplo é o RenovaBio, programa do governo federal voltado para a certificação da produção de biocombustíveis de acordo com critérios sustentáveis. Uma das ferramentas desenvolvidas para o RenovaBio é chamada RenovaCalc, calculadora que permitirá medir a eficiência ambiental dos biocombustíveis.
Desenvolvida por um grupo de trabalho coordenado pela Embrapa, a ferramenta deve servir de referência para definir os chamados créditos de descarbonização previstos no RenovaBio. Gerente de sustentabilidade aplicada da Fundação Espaço ECO (FEE), Juliana Silva explica que a calculadora foi criada a partir do conceito de avaliação do ciclo de vida (ACV), uma técnica desenvolvida para mensurar os possíveis impactos ambientais, sociais e econômicos resultantes da fabricação e utilização de determinado produto ou serviço.
O que importa é conhecer, por meio da mensuração, os impactos gerados pela produção no aquecimento e uso da terra, dentre outros fatores. Para o Prêmio Fazenda Sustentável, a Fundação Espaço ECO leva em conta a análise agroambiental, que inclui a produção e as boas práticas agrícolas das fazendas, e a análise social. A produção é analisada por meio de um software e um banco de dados, ferramentas que permitem comparar qualquer combinação de cultivos e pecuária na propriedade.
Importância
O conceito de ACV é importante para a tomada de decisão dos produtores. “Sem mensurar e conhecer de fato quais são os impactos causados por uma atividade, a gestão de riscos e a identificação de oportunidades para diferenciação de produtos tornam-se mais desafiadoras”, diz Juliana.
Segundo ela, a avaliação do ciclo de vida vem para concretizar a sustentabilidade. “Hoje em dia, dizemos que tudo é verde, que tudo é ecológico, mas, se não medirmos de fato, não saberemos se é realmente. Esse tipo de estudo vai ajudar na gestão. Se eu conheço melhor os números, os meus processos e meus impactos, consigo tomar decisões de forma mais assertiva”, conclui.
A transformação da Fazenda Roncador
Uma das maiores fazendas do País, com 147 mil hectares, aumentou sua produção em 57 vezes. A produção de grãos passou de 41 toneladas para 235.436 toneladas e a produção de carne aumentou de 4.150 toneladas para 6.462 toneladas. A propriedade capturou mais de 91 mil toneladas de carbono.
O produtor Pelerson Penido Dalla Vecchia tem na memória – e na estante atrás da sua mesa no escritório – o histórico dos diagnósticos socioambientais da Fazenda Roncador dos últimos 10 anos. A década marcou uma verdadeira revolução em uma das maiores fazendas do País, com 147 mil hectares movida por boa gestão, tecnologia e monitoramento constante do desempenho.
Sua produção cresceu mais de 57 vezes no período de 2009 a 2020, à pecuária somou o cultivo de soja e milho, aumentou a biodiversidade local e neutralizou as emissões de gases de efeito estufa de sua operação. E sem cortar nenhuma árvore, como Pelerson – mais conhecido como Peleco -, presidente do Grupo Roncador e neto do seu fundador, se orgulha de destacar.
Mas não foi sempre assim. Por volta de 2007, a propriedade localizada em Querência (MT) enfrentava um esgotamento da terra e perda de lucratividade. Uma das conclusões para a piora dos resultados econômicos era a prática de uma pecuária extensiva. O desafio, então, era se tornar mais lucrativo e sustentável ao mesmo tempo.
A Produzindo Certo, ainda como Aliança da Terra, testemunhou os esforços dos administradores nessa jornada e se orgulha de ter apoiado a sua transformação. Os técnicos da Produzindo Certo se somaram aos investimentos que já eram realizados na fazenda de intensificação das práticas produtivas e tecnologia para dedicar um olhar exclusivo entre o equilíbrio da produção e o respeito às pessoas e ao meio ambiente.
A Fazenda Roncador está na plataforma desde 2008. No ano seguinte assinou os primeiros compromissos de adequação socioambiental. Um diagnóstico inicial traçou o perfil da propriedade, fornecendo uma visão ampla e integrada dos pontos positivos e das necessidades de melhoria. Serviu de guia para a ação.
“No primeiro levantamento, você enxerga o mapa todo pintado. E agora, né?”, brinca Peleco. “É uma boa ferramenta, deixa tudo bem detalhado. A melhor coisa é você saber o que pode melhorar. Me deu a percepção do que era preciso fazer”, afirma.
Tamanho maximizado
Em uma propriedade com as dimensões da Roncador, todo o trabalho é superlativo. Só de estradas internas contam-se 700 quilômetros, onde vivem aproximadamente mil pessoas. Após a primeira visita dos técnicos, os administradores assumiram o compromisso de melhoria de 205 itens que poderiam se tornar passivos se não fossem aprimorados.
Entre os temas, Peleco destaca o investimento nos espaços de trabalho, garantindo mais segurança e bem-estar aos funcionários – a propriedade passou de 49 para mais de 558 colaboradores em doze anos. A gestão das Áreas de Preservação Permanente (APPs) também evoluiu e mais de 30% foi recuperada.
O dashboard de acompanhamento socioambiental da fazenda inclui outras informações monitoradas em aspectos sociais, ambientais e produtivos. Hoje, a propriedade está entre as de melhor score socioambiental da plataforma, com pontuação acima de 90.
Desde 2008 não se abrem novas áreas na fazenda. Localizada em uma região de transição entre cerrado e floresta, dentro da Amazônia Legal, a Fazenda Roncador precisa manter aproximadamente metade de sua área com mata nativa ou áreas de proteção permanente, conforme o Código Florestal.
Dos 69 mil hectares preservados atualmente, cerca de 4 mil são excedentes ao exigido pela lei. Para ampliar a cobertura vegetal nativa, os administradores mantêm um viveiro com cerca de 40 mil mudas de espécies nativas. Com mais áreas conservadas, a fauna também se amplia.
Onde as onças têm seu espaço garantido
Além de pássaros e pequenos animais, as onças pintadas são cada vez mais presentes na região. Prova disso é a contagem de cabeças de gado abatidas pelos felinos – passou de cerca de 90 para mais de 1.800 em 2020. Mas essa perda não é vista como um prejuízo pelos administradores do rebanho de 70 mil unidades.
É, antes de tudo, um indicador de qualidade da biodiversidade local. A fazenda foi a primeira do Brasil a obter o certificado de proteção fornecido pelo Instituto Onça Pintada.
Bom para o produtor e consumidor
A Roncador integra também outra iniciativa, dentro do programa de acompanhamento dos fornecedores de carne rubia gallega para o Grupo Pão de Açúcar (GPA) – ação existente desde 2016. Nesse período, a gestão produtiva e socioambiental foi sendo sofisticada e a fazenda aderiu ainda a outros compromissos, como o Programa 3S, de soluções para Suprimentos Sustentáveis, e o IBS, Instituto Biosistêmico, para consultoria e serviços em agricultura sustentável e desenvolvimento rural.
Um ciclo dinâmico
Mais alimentos sendo produzidos, sem abrir novas áreas. A porção produtiva se divide entre pecuária (26 mil ha) e o sistema integrado soja-capim-boi (30 mil ha). No modelo de integração lavoura-pecuária, de outubro a fevereiro, o foco é a agricultura, com a criação de gado predominando de abril a setembro. Outros 20 mil ha são usados para cultivo de soja e milho em uma joint venture com o grupo SLC – onde o modelo de produção integrada está no início.
A integração das culturas se traduz em mais produtividade e qualidade. A soja fixa nitrogênio na terra e o estímulo do pastejo (a passagem do gado pelas áreas) incentiva o crescimento das raízes do capim, que chegam a três metros de profundidade, reciclando os nutrientes e descompactando do solo, criando microgalerias, que aumentam a sua permeabilidade a acumulam a matéria orgânica (CO2). A passagem do gado também aumenta a vida do solo (esterco e urina). E a palhada que sobra (pelo menos 2,5 t de matéria seca) garante a cobertura de solo para o plantio direto da soja, além de conservar a umidade e aumentar o conforto térmico para a próxima cultura da leguminosa.
A prática ainda reduz a necessidade de fertilizantes. A Roncador também tem como compromisso a redução do uso de defensivos químicos e realiza controle biológico de pragas. O objetivo é expandir o uso de defensivos biológicos em todo o sistema produtivo. Outra ação realizada com frequência é a análise de resíduos nos grãos produzidos na busca pelo sistema produtivo que alcance a soja Zero Resíduo. Hoje, a maioria das análises apontam para zero e, quando aparece algum, está bem abaixo dos limites estipulados pela União Europeia.
Contribuição para a redução do carbono
O resultado de todo esse processo é uma fazenda carbono positivo. Isto é, as atividades da Roncador absorvem maior volume de gases de efeito estufa do que lançam na atmosfera, colaborando com o combate às mudanças do clima.
Na safra 2017/18, a operação emitiu 82.499 toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) ao mesmo tempo em que sequestrou -174.270 tCO2e, garantindo um balanço de carbono de -91.777. Para se ter uma ideia dos efeitos desse benefício, é como se as atividades da fazenda retirassem 52 mil carros das estradas por ano.
Essa jornada de transformação da fazenda trouxe ganhos e aprendizados. Gestão e governança são pontos fundamentais. Seu sistema se apoia em dezenas de indicadores medidos continuamente – e os indicadores de desempenho socioambientais e econômicos são alguns deles. Isso garante eficiência e os resultados positivos são consequência, como demonstram os números apresentados pela Roncador.
“Sustentabilidade não é um palavrão. Existe o tripé da sustentabilidade (econômica, social e ambiental). Sem o resultado econômico, o negócio não para em pé. Se você não contar com uma equipe motivada, com um turnover pequeno, pessoas agregando conhecimento e se desenvolvendo, você não consegue sustentar o desempenho. E se você não tiver gestão ambiental, vai aquecer o planeta e não vai conseguir produzir alimento na quantidade necessária”, reflete Peleco, destacando a interdependência dos eixos econômico, social e ambiental
Outros resultados vêm sendo alcançados a partir do trabalho consistente da fazenda nos últimos 10 anos. O Grupo Roncador obteve empréstimo de US$ 10 milhões do Fundo &Green, com juros abaixo da média do mercado, de 3% ao ano. O fundo holandes é focado em proteção florestal e commodities florestais tropicais e se interessou pelo trabalho na propriedade a partir dos resultados obtidos em produtividade e conservação do meio ambiente. A Roncador se comprometeu em aumentar em mais 58% a produção de alimentos nos próximos oito anos. E assim como aconteceu até aqui, sem cortar uma única árvore.
É um exemplo interessante de globalização. Os recursos de um fundo verde europeu com objetivo de impactar positivamente o clima do planeta e aumentar da produção de alimentos sem abrir novas áreas são recebidos por um produtor rural brasileiro totalmente alinhado com o mesmo conceito e que já atuava nesses propósitos há mais de dez anos. E esses alimentos são levados às pessoas que necessitam em todas as partes do mundo.
Trajetória de sustentabilidade
Atendida desde 2016 pelo Instituto BioSistêmico (IBS) no Programa 3S (Soluções para Suprimentos Sustentáveis) da Cargill, a Roncador está entre as fazendas premiadas pelo 3S, pela comercialização de soja certificada.
Desenvolvido pela Cargill com execução do IBS, o 3S é um programa de melhoramento contínuo de sustentabilidade das fazendas produtoras de soja, que permite ao produtor melhorar seus indicadores sociais, ambientais e produtivos.
E a certificação da soja é concedida pela Cargill às propriedades que cumprem os requisitos do programa: desmatamento zero após 2008, bem-estar do trabalhador rural, gestão de gases de efeito estufa (GEE) e melhoramento contínuo dos seus indicadores.
Nessas áreas, a Roncador tem excelentes resultados alcançados a partir da trajetória de sustentabilidade iniciada, há cerca de dez anos, por Pelerson Penido Dalla Vecchia, diretor presidente do Grupo Roncador.
Ele afirma que a premiação pela soja certificada é a confirmação de que é possível fazer direito, colhendo bons resultados produtivos por meio de processos adotados e avaliados por órgão competente. “Isto mostra que é possível produzir em larga escala, fazer o que tem que ser feito, de forma correta, com alto nível técnico e de forma sustentável”, destaca Peleco.
Para Eric Geglio, do time de Sustentabilidade da Cargill, exemplos de propriedades como a Roncador são fundamentais para que a sustentabilidade esteja cada vez mais presente nas cadeias produtivas. “Se hoje é possível oferecer soja certificada ao mercado é porque contamos com a parceria de produtores comprometidos com a sustentabilidade da sua produção”, ressalta Geglio.
Resultados
Com a implantação do ILP, a Roncador aumentou 57 vezes o volume de alimentos produzidos na mesma área. Entre 2009 e 2020, a produção de grãos passou de 41 toneladas para 235.436 toneladas e a produção de carne aumentou de 4.150 toneladas para 6.462 toneladas.
A propriedade capturou mais de 91 mil toneladas de carbono equivalente na safra 2017/18, de acordo com estudo da Pangea. Isso significa que, hoje, a Fazenda Roncador compensa todas as suas emissões de gases do efeito estufa e ainda captura carbono equivalente a 52 mil carros rodando mil quilômetros por um mês durante um ano todo.
“Correlacionando o que produzimos de alimentos com o que foi capturado de carbono equivalente na safra 2017/18, significa que nós fixamos 1,14kg de CO2-equivalente para cada 1,0 kg de alimento produzido. O fechamento do balanço da safra 2018-1019 e 2019-20 está sendo realizado e logo será divulgado”, avisa Peleco.
Sistema 4 Ps
O cuidado com as pessoas é um dos pilares do que Pelerson chama de sistema 4 Ps da Fazenda Roncador: Plantio, Pecuária, Pessoas e Planeta. A partir do plantar e colher integrado com a pecuária, foi possível mudar o rumo da Fazenda Roncador para o caminho da sustentabilidade.
Nenhuma mudança teria sido possível, sem a contribuição das pessoas ali envolvidas. E tudo passa pelo dever que é da humanidade: cuidar do planeta. Mais que cuidar do planeta, o exemplo da Fazenda Roncador demonstra a importância de aprender com o planeta.
“A sustentabilidade é a consequência de uma ação persistente no caminho da melhoria”, afirma Peleco. Para ele, é essencial olhar para a natureza como professora e ter a consciência de que a melhoria é contínua. “Nunca acaba. Sempre dá para melhorar mais. Estamos vivos para aprender”, pontua.
O olhar para a natureza e o saber ouvir o que a terra “fala” faz parte de um ensinamento que o diretor presidente do Grupo Roncador parece ter aprendido e que faz questão de compartilhar, seja com outros produtores ou com seus filhos.
Vida é o que não falta no solo da Roncador. “O que antes era terra trincada e seca, hoje está cheio de minhocas”, comemora Pelerson Penido Dalla Vecchia. São detalhes que parecem pequenos, mas são bons indicadores de sustentabilidade da área de 147 mil hectares. E para além dessa extensão, talvez a grandeza da Fazenda Roncador também se revele nessas miudezas, assim como no aprender constante de todas as pessoas que fazem essa gigante rodar. Porque, sim, é sempre possível melhorar.