Emprego, geração de renda e respeito à vocação local sustentam os ecossistemas
Em vez do discurso, a prática. São vários os modelos para fomentar a bioeconomia amazônica, mas os que mostram mais resultados, até agora, são aqueles que levam em consideração quem vive no chão da floresta.
Criado em 2016 pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), o Origens Brasil, por exemplo, tem como função conectar quem produz com quem compra, além de mediar essa transação para que seja feita de forma ética, responsável, transparente e que não afete a forma de vida das comunidades amazônicas. “Tudo isso é feito a partir de um coletivo de empresas, ONGs e lideranças indígenas do Xingu”, conta Patrícia Gomes, secretária executiva adjunta do Imaflora e gerente do Origens Brasil.
Os produtos que fazem parte da iniciativa são os mais variados possíveis, de artesanato a cerveja, passando pelos tradicionais açaí e castanha.
De acordo com Patrícia, o projeto surgiu a partir de uma constatação: o desmatamento da Floresta Amazônica só termina quando encontra com áreas protegidas, que podem ser terras indígenas ou Unidades de Conservação federais. “Então, como tentativa de evitar que a degradação chegue a esses locais – que pode ocorrer por meio da violência, ou mesmo com o uso do dinheiro –, estudamos a melhor solução econômica a fim de valorizar as mercadorias produzidas por essas comunidades. A partir disso, resolvemos unir os residentes locais com empresas que necessitam desses insumos para fabricar os seus produtos”, explica.
E não é somente a matéria-prima o que muitas companhias buscam. Diversas vezes, as empresas acabam contribuindo com a cocriação das marcas da comunidade. O Origens Brasil atua em cinco grandes territórios na Amazônia: Rio Negro, Norte do Pará, Solimões, Xingu e Tupi Guaporé.
Além disso, o projeto também contribui para a manutenção de 53 milhões de hectares e possui mais de 2,8 mil produtores cadastrados de 62 etnias diferentes. E, desse montante, 45% são mulheres. “A gente precisa reconhecer a contribuição desses povos para manter a floresta em pé e, consequentemente, para o mundo”, diz Patrícia.
MENOS ÁREAS E MAIS LUCRO
Apesar de ainda precisar avançar bastante em termos de áreas ocupadas, outra vertente interessante que ajuda a manter a floresta em pé é a técnica da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que utiliza diferentes sistemas produtivos – agrícolas, pecuários e florestais – dentro de uma mesma região. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), essa é a forma de otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade em uma mesma área ao usar melhor os insumos, diversificar a produção e gerar mais renda e emprego.
A ILPF é utilizada em várias partes do País e do mundo, com resultados positivos no aumento da produtividade rural, preservação do solo e redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). “O ILPF é hoje reconhecido como uma das grandes vias para o crescimento do agronegócio e, segundo a Embrapa, somente em Mato Grosso, a iniciativa soma mais de 2,5 milhões dos 11,5 milhões de hectares de terras produtivas no Estado”, afirma Monica Kruglianskas, coordenadora de Sustentabilidade da FIA Business School, em São Paulo.
A Fazenda Roncador, no Araguaia, é uma das áreas agrícolas adeptas da técnica da ILPF. A propriedade tem 147 mil hectares, sendo 72 mil de mata nativa ou área de preservação. Segundo o balanço de carbono aferido no campo na safra de 2017 para 2018, houve a emissão de 82,5 mil toneladas de CO2, mas que foram compensadas com a remoção de 172,3 mil toneladas de gás carbônico. Ou seja, houve um “superávit” de 89,8 mil toneladas.
O exemplo brasileiro, inclusive, chamou a atenção de investidores internacionais, como a dos gestores do fundo holandês &Green.
“O Fundo focado em proteção florestal e commodities florestais tropicais aprovou um empréstimo de US$ 10 milhões para o Grupo Roncador, associado ao compromisso da produtora agropecuária em aumentar até 58% a produção de alimentos dentro da mesma área em até oito anos”, ressalta Monica, da FIA Business School.
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