Dono da propriedade, que é certificada pela preservação das onças, diz que registros terem dobrado de 2019 para 2020 indica qualidade da biodiversidade das matas
No ano passado, onças-pintadas (Panthera Onca) abateram 1.831 bezerros de uma das maiores fazendas agropecuárias do país, a Roncador, que fica em Querência (MT). Em 2019, haviam sido abatidos mais de 900 animais.
Pelerson Penido Dalla Vechia, o dono da fazenda de 147 mil hectares, sendo 72 mil hectares de mata nativa ou área de preservação, diz que o aumento de mortes de bezerros é um indicador da qualidade da biodiversidade das matas da propriedade porque a onça está no topo da cadeia alimentar.
Penido diz com orgulho que a Roncador, que tem mais de 70 mil cabeças de gado, foi a primeira do país a receber a certificação do Instituto Onça Pintada.
O agropecuarista conta que faz testes com cercas elétricas para tentar barrar o acesso das onças às áreas de maternidade visando minimizar as perdas, mas os bezerros nascem em todas as partes da fazenda e não existe abate de onças em represália à predação.
O fazendeiro que produz grãos e pecuária de corte no sistema ILP (Integração Lavoura-Pecuária) diz que já avistou muitas onças na propriedade. “No ano passado, estava percorrendo uma parte da fazenda de canoa com meus filhos e uma onça passou tranquilamente nadando ao nosso lado. É uma sensação incrível ver o animal tão perto. Dá medo, é claro, mas você não vai mexer com ela.”
Neste ano, funcionários da Roncador fotografaram uma onça na beira da mata com seu filhote. Detalhe: a mãe era preta e o filhote, pintado.
O biólogo Leandro Silveira, que está à frente da ONG Instituto Onça Pintada, explica que a cor preta é uma variação da pigmentação da espécie pelo excesso de melanina e que em uma ninhada podem nascer tanto filhotes pretos quanto pintados.
Silveira confirma que a Roncador possui o Certificado Onça Pintada (IOP) número 1. Outras fazendas foram certificadas depois, totalizando uma área de 341.340 hectares. Segundo o instituto, o IOP foi criado para promover o reconhecimento isento, científico e legítimo, criando um elo direto entre o produtor que adota práticas conservacionistas e o consumidor final.
A certificação é direcionada a produtores rurais, empreendimentos ou prestadores de serviço que estejam estabelecidos em áreas de ocorrência da onça-pintada e que mantenham práticas sustentáveis para a conservação da pintada e também da onça parda e de suas presas naturais, como queixadas, veados e tamanduá-bandeira.
O uso de cercas elétricas, diz Silveira, é uma forma de agregar técnicas e minimizar o prejuízo da predação. “É preciso cumprir vários requisitos da norma e adotar práticas que proporcionem a conservação do maior símbolo da biodiversidade brasileira que é a onça-pintada.” A aplicação das normas é verificada por auditores do IOP.
Segundo a ONG, a onça-pintada foi extinta em mais de 50% de sua distribuição geográfica original, que atualmente se restringe a países da América Central e do Sul. Em El Salvador e no Uruguai, o animal já é considerado extinto. Quase metade da população está em território brasileiro, sendo 75% em terras privadas.
por Eliane Silva
Matéria publicada na Revista Globo Rural em 23 Ago 2021